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Correção do Vestibular UFRGS 2017 - Formação do Estado Nacional Brasileiro

     E vamos à correção da questão nº 9 da prova de História do Vestibular UFRGS 2017! A primeira questão da prova sobre História do Brasil e, de novo, uma questão complexa! Lembrando que, explicando de maneira bem simples, falar de formação do Estado nacional é abordar o início da organização daquele país, de como seu governo foi ganhando força e se tornando, de fato, poderoso. Significa falar da perda do poder de outros grupos diversos espalhados pelo território e no fortalecimento desse poder nas mãos do Estado que passa a se constituir como uma "nação", um termo que se inventou para falar de um povo com características semelhantes governadas por um mesmo soberano.

     Eis a questão:
I - ERRADA! Já falei disso aqui no blog, mas vamos retomar: geralmente, alternativas que trazem termos como "todos", "total", "completo", etc. tendem a estar erradas. Em História, uma ciência humana, é complicado dizer que houve um "completo desmantelamento das elites coloniais", ainda mais num país do tamanho do Brasil! Sempre pode haver alguma exceção, por isso, esses termos muitos extremos, abrangentes demais, dificilmente tornam uma alternativa correta. Sobre a frase em si, ela está incorreta porque, com a vinda da família real portuguesa para o Brasil [fugindo de Napoleão que atacaria Portugal por ter negociado com a Inglaterra, descumprindo assim o Bloqueio Continental imposto por ele], as elites coloniais não foram retiradas da administração política, mas foram absorvidas por ela. No caso, os poderosos dessas terras antes da chegada de Dom João VI receberam títulos de nobreza após sua chegada e passaram a ser nobres do rei. Ou seja, mantiveram-se na administração política.

Resultado de imagem para lei feijó 1831II - CORRETA! Essa lei, que ficou conhecida como "lei para inglês ver", foi assinada pelo Padre Feijó (um dos regentes, que assumira o poder após a abdicação de Dom Pedro I) e, para atender a pressões inglesas, decretava o fim do tráfico de escravizados africanos para o Brasil. Ou seja, os escravizados que estivessem no Brasil até aquela data permaneceriam escravizados. Se viessem novos escravizados para o país, eles seriam considerados livres ao chegar nos portos e seus mercadores seriam punidos. Na prática, nada disso aconteceu: o tráfico de escravizados continuou, mercadores (traficantes) não foram punidos, e por isso essa Lei Feijó é conhecida como "lei para inglês ver". Foi só pra dizer aos gringos que estávamos fazendo o que eles pediram...

Resultado de imagem para revoltas regenciais
III - ERRADA! Como assim "ausência de conflitos armados"??? O período regencial (1831-1840) foi aquele período entre a saída de Dom Pedro I (que voltou para Portugal) e o golpe da maioridade de Dom Pedro II. Lembrando, quando Dom Pedro I abdicou, seu filho mais velho tinha apenas 5 anos, não poderia assumir o comando do Império. Então, um grupo de regentes assumiu o poder até sua maioridade, que por um golpe (o Brasil é um país de golpes, hein!) decretou a maioridade de Dom Pedro II aos 14 anos!!! Bem, o período regencial foi marcado por muuuuuitos conflitos armados. Teve a Revolta dos Malês (1835) em Salvador, organizada por escravizados muçulmanos que tentaram fundar uma nação muçulmana formada só por negros na cidade. Teve a Cabanagem no Grão-Pará, uma revolta popular entre 1835 e 1840. Teve a Guerra dos Farrapos, movimento separatista no Rio Grande do Sul e Santa Catarina entre 1835 e 1845. Teve outro movimento separatista em Salvador, a Sabinada (1837-1838). E teve, ainda, a Balaiada no Maranhão (1838-1842). Então, não me venham aceitar essa de ausência de conflitos armados na Regência! É fria!

     Resposta correta, então, Letra B: Apenas II.

     Até a próxima!

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