Pular para o conteúdo principal

Povoamento Inicial do Rio Grande do Sul: a Colonização Açoriana

Antes, um parêntese sobre o processo de apropriação de terras

     As terras eram concedidas por meio de sesmarias e datas, que eram porções do território entregues pela Coroa aos súditos com a obrigação de povoar e cultivar a terra. Esse sistema, já vigente em Portugal desde 1375, foi estendido às colônias ultramarinas visando garantir o povoamento do território e a delimitação das fronteiras. Foi a partir de 1750 que ocorreu uma certa intensificação das concessões. Aqui no Continente de São Pedro (Rio Grande do Sul colonial) o povoamento geral intensificou-se após 1764. Foi nesse ano que o Cel. José Custódio de Sá e Faria assumiu o governo do Continente com árduas tarefas: estabelecer os açorianos, cumprir a entrega das concessões prometidas, controlar os índios, eliminar a escravidão indígena, capacitar as defesas (construção de fortins no rio Taquari) e fomentar a agricultura (incentivo ao cultivo de trigo e de linho-cânhamo). Devido à invasão espanhola à vila de Rio Grande e a transferência da capital para Viamão no ano anterior, o que falou mais alto foi o processo de militarização, enquanto as demais propostas foram deixadas em "banho-maria". Ainda, o recrutamento compulsório fez ampliar o contingente de "vagabundos" e fortaleceu o poder local de estancieiros militares. Após 1780, ampliaram-se as concessões numa conjuntura de paz. Os maiores beneficiários das concessões dessa década foram os militares que lutaram contra o avanço dos espanhóis entre 1763 e 1776.

A Colonização Açoriana

     Tinha o objetivo estratégico de resguardar o domínio português. A partir de 1746 foram autorizadas as concessões que permitiram a vinda de jovens casais açorianos (pobres, em sua grande maioria). Para virem, foi-lhes fornecida ajuda de custo, instrumentos agrícolas, animais, farinha para o primeiro ano, isenção de serviço militar e um quarto de légua quadrada de terra. 

     O primeiro destino dos açorianos foi Desterro, em Santa Catarina. De 1748 a 1753, chegaram para lá entre 5 a 6.000 imigrantes oriundos do Arquipélago de Açores e 40% de toda essa gente foi transferida para a Vila de Rio Grande. Esperando transferência para os Sete Povos, foram levados para as regiões de Viamão, Porto Alegre, Santo Amaro e Rio Pardo. Diante da impossibilidade de se transferirem para as Missões, os açorianos acabaram disseminando-se para três regiões principais: campos de Viamão, margens do Rio Jacuí e arredores da Vila de Rio Grande (a população da vila praticamente dobrou com a chegada dos açorianos). Por essas regiões ficaram abandonados esperando as concessões prometidas.

     A maioria dos açorianos que vieram para Viamão ficaram instalados às margens do Guaíba, dando origem ao núcleo urbano de Porto Alegre. Até então chamada de "Porto de Dorneles", o local recebeu o nome de "Porto dos Casais" após 1757. Talvez você esteja se perguntando por que foram transferidos casais açorianos. Pois bem, ser casado era a principal exigência da Coroa. Os casais deveriam vir juntos para o "mundo novo", garantindo a perpetuação da família e a mais rápida adaptação à nova terra. Além disso, estava nas exigências ser católico, estar em idade reprodutiva e/ou acompanhado da família e ter menos de 60 anos. Com a vinda deles, a Coroa Portuguesa resolvia dois problemas de uma só vez: povoava o sul do Brasil e resolvia a questão da escassez de terras derivada do aumento populacional no arquipélago.

     São freguesias tidas como açorianas: Santo Antônio (não exclusivamente de açorianos), Taquari, Porto dos Casais (atual Porto Alegre), Santana da Vila Real (fracassou), Conceição do Arroio (atual Osório, já era ocupada por lagunistas), Mostardas, Santo Amaro...

Esse mapa é de alguns anos depois, mas indica a localização de várias freguesias.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Guerra do Paraguai (1864-1870)

     Antes de falar propriamente do conflito, vamos recordar que o antigo Vice-Reinado do Rio da Prata não sobreviveu como unidade política ao fim do colonialismo espanhol. Com as independências americanas, nasceram, naquele espaço territorial após longos conflitos, a Argentina, o Paraguai, a Bolívia e o Uruguai.  Independências latino-americanas      A República Argentina surgiu depois de muitos vaivéns e guerras em  que se opunham os unitários e os federalistas. Os unitários defendiam um modelo de Estado centralizado, sob o comando da capital do antigo vice-reinado, Buenos Aires. Seus principais defensores eram os comerciantes da capital que, assim, poderiam assegurar o controle do comércio exterior argentino e apropriar-se das rendas provenientes dos impostos alfandegários sobre as importações. Já os federalistas  reuniam as elites regionais, os grandes proprietários, pequenos industriais e comerciantes mais voltados para o mercado interno. Defendiam o Estado descentrali

A Direita na Europa

Se a América Latina tem seguido o rumo a esquerda, a Europa vai à direita. É o que se tem observado com o crescimento dos partidos de direita no Velho Mundo. Em postagem recente, trabalhei os conceitos de esquerda e direita e, sim, eles existem hoje e são perceptíveis. É verdade que a direita na Europa tem procurado se "modernizar" para conquistar a maioria dos eleitores. E, com a crise econômica mundial de 2008, houve a consolidação dessa tendência de "direitização europeia". Isso já ocorreu na crise de 1929, quando os governos de direita ganharam força depois da crise com Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália, por exemplo. Calma, isso não quer dizer que a Europa esteja a beira de u m novo nazismo. Não é para tanto! Mas a crise faz com que o eleitorado opte por governos tradicionais, conservadores, com os quais saibam que não haverá mudanças de rumos e tudo seguirá como está e talvez até melhore. De acordo com o escritor e jornalista Álvaro Vargas Llosa, "a

História do Rio Grande do Sul - Os Sete Povos das Missões

     Instrumento importante da Igreja na Contra-Reforma, a Companhia de Jesus foi criada por Inácio de Loyola, em 1534 (oficializada pelo Papa Paulo III em 1540), com o objetivo de "recatolizar" as regiões convertidas ao protestantismo. Sua atuação na América foi marcante, mas estiveram, também, na Índia, China e Japão durante essa época. Na América Portuguesa, a atuação dos jesuítas iniciou-se em 1549 em Salvador - na América Espanhola iniciou em 1610.      Nem sempre os jesuítas eram eficazes em sua conversão dos nativos. Após uma conversão inicial, marcada pelo batismo, muitos guaranis retornavam às suas práticas indígenas não sendo fieis às práticas e costumes cristãos. As reduções, no entanto, serviram à Coroa portuguesa, pois o "adestramento" dos nativos facilitava o acesso de mão-de-obra barata e abundante aos paulistas que tinham grande dificuldade de fazer cativos indígenas. Como eram hábeis agricultores, os tupi-guaranis eram "de grande valor&qu