A renúncia de Jânio, como já indicado ontem, não causou comoção popular. De acordo com a Constituição, diante da renúncia do presidente, o posto seria assumido pelo vice-presidente. João Goulart, o vice-presidente, estava em visita oficial à China comunista e seu nome foi vetado pelos Ministros militares. Dessa forma, assumiu interinamente a Presidência, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli (foto ao lado), há exatos 50 anos atrás.
É nesse contexto que vai se desencadear a Campanha da Legalidade, mas isso é assunto para a próxima postagem.
Hoje, vale a pena ler o que pesquisadoras do governo Jânio comentam sobre sua administração e seu governo:
JÂNIO E AS FORÇAS ARMADAS:
RENÚNCIA DE JÂNIO COMENTADA POR ELE MESMO: Há uma suposta conversa de Jânio com seu neto, Jânio Quadros Neto, no leito de morte, revelada por este em 1996 em Jânio Quadros: memorial à história do Brasil (Rideel): “A minha renúncia era para ter sido uma articulação. Nunca imaginei que ela fosse de fato aceita. Renunciei à candidatura à Presidência em 1960 e ela não foi aceita. Voltei com mais fôlego e força. O ato de agosto de 1961 foi uma estratégia política que não deu certo. Também foi o maior erro político da história republicana do país. O maior erro que eu já cometi. Renunciei no Dia do Soldado porque quis sensibilizar os militares e conseguir o apoio deles. O Jango, na época, era inaceitável para as elites e achei que todos iam implorar para eu ficar. Era para ter criado um clima político e imaginei que o povo e os militares sairiam às ruas para me chamar de volta. O brasileiro é muito passivo. Ninguém reagiu. As forças terríveis eram tudo aquilo que mandava na democracia prostituída que governava o Brasil. Sem dúvida, o Congresso era a pior. Fui prefeito e governador e consegui administrar o Legislativo. Achei que Brasília seria uma continuidade, mas aquelas pressões não são nada comparadas com a Presidência”.
“O mais importante é entender que o império da vassoura preparou o caminho para o domínio da espada. A política de Jânio de ‘governar é punir’ transformou o país num imenso quartel de Inquisição. Seu governo foi decisivo para reforçar o papel das Forças Armadas, como foi o pós-1964. Seu estilo e sua renúncia contribuíram, também, para desmoralizar o processo eleitoral e a participação democrática. A descrença de que ‘o povo não sabe votar’ virou, a partir dele, uma arma ideológica para incutir no povo uma percepção negativa de seus direitos políticos de cidadão. Se seu voto não vale nada, por que votar?”, analisa a socióloga Maria Victoria Benevides, professora titular da Faculdade de Educação da USP e autora de O governo Jânio Quadros (Brasiliense).
Extraído da Revista Pesquisa - FAPESP
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