Pular para o conteúdo principal

A Legalidade na UFRGS

      Vamos dar uma olhada na questão que caiu há 10 anos na UFRGS sobre o movimento da Legalidade, que completou 50 anos nesse ano:


(UFRGS/2002) Leia o documento abaixo.

“Ao Rio Grande e ao Brasil

O Governo do Estado do Rio Grande do Sul cumpre o dever de assumir o papel que lhe cabe nesta hora grave da vida do País.
Cumpre-nos reafirmar nossa inalterável posição ao lado da legalidade constitucional. Não pactuamos com golpes ou violências contra a ordem constitucional e contra as liberdades públicas. Se o atual regime não satisfaz, em muitos dos seus aspectos, desejamos é o seu aprimoramento e não sua supressão, o que representaria uma regressão e o obscurantismo.
A renúncia da S. Exa. o Presidente Jânio Quadros veio surpreender a todos nós. A mensagem que S. Exa. dirigiu ao povo brasileiro contém graves denúncias sobre pressões de grupos, inclusive do exterior, que indispensavelmente precisam ser esclarecidas. (...)
Por motivos dos acontecimentos, como se impunha, o Governador deste Estado dirigiu-se à S. Exa. o Sr. Vice-Presidente da República, Dr. João Goulart, pedindo seu regresso urgente ao País, o que deverá ocorrer nas próximas horas. (...)
O povo gaúcho tem imorredouras tradições de amor à Pátria comum e de defesa dos direitos humanos. E seu Governo, instituído pelo voto popular — confiem os rio-grandenses e os nossos irmãos de todo Brasil — não desmentirá estas tradições e saberá cumprir o seu dever.

Leonel Brizola 
Governador do Estado”

FELIZARDO, J. A legalidade: o último levante gaúcho. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988, p. 20.

     Considere as seguintes afirmações acerca do documento e do contexto histórico em que ele foi produzido.

I. O documento refere-se aos eventos relacionados com o golpe de 1964, que impôs o regime militar.
II. O documento refere-se a eventos relacionados com a renúncia de Jânio Quadros.
III. A Campanha da Legalidade visava garantir a permanência de Jânio Quadros na presidência do
Brasil.
IV. A volta do Vice-Presidente ao país ocorreu imediatamente após a renúncia de Jânio Quadros.
V. A posição manifestada no documento mostra o conteúdo constitucionalista do movimento liderado
pelo Governador Brizola.
VI. A Campanha da Legalidade, em 1961, impediu a consumação do golpe contra João Goulart.

Quais estão corretas?
(A) Apenas II, IV e VI.
(B) Apenas II, V e VI.
(C) Apenas I, III, IV e V.
(D) Apenas I, IV, V e VI.
(E) Apenas II, III, V e VI.

..
...
....
.....
......
.......
........
..........
............

      Resposta: Letra B
      A afirmação I está incorreta pois o documento refere-se ao período em que Leonel Brizola era governador do Rio Grande do Sul (1959-1963), logo antes do golpe de 1964. Além disso, esse foi um dos discursos proferidos por Brizola, logo após a renúncia de jango e tentativa de impedimento da posse de João Goulart pelas Forças Armadas.
     A afirmação III também está errada, pois o movimento da Legalidade não tentou, em momento algum, pedir a volta de Jânio Quadros à Presidência. Aliás, ninguém queria!
     E a afirmação IV não está certa pois foram quase duas semanas de impasse entre a renúncia de Jânio Quadros e a chegada de Jango ao Brasil para tomar posse. Tudo por causa da tentativa frustrada dos militares de impedir a posse constitucional do vice-presidente e pelo movimento de resistência iniciado por Leonel Brizola.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Direita na Europa

Se a América Latina tem seguido o rumo a esquerda, a Europa vai à direita. É o que se tem observado com o crescimento dos partidos de direita no Velho Mundo. Em postagem recente, trabalhei os conceitos de esquerda e direita e, sim, eles existem hoje e são perceptíveis. É verdade que a direita na Europa tem procurado se "modernizar" para conquistar a maioria dos eleitores. E, com a crise econômica mundial de 2008, houve a consolidação dessa tendência de "direitização europeia". Isso já ocorreu na crise de 1929, quando os governos de direita ganharam força depois da crise com Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália, por exemplo. Calma, isso não quer dizer que a Europa esteja a beira de u m novo nazismo. Não é para tanto! Mas a crise faz com que o eleitorado opte por governos tradicionais, conservadores, com os quais saibam que não haverá mudanças de rumos e tudo seguirá como está e talvez até melhore. De acordo com o escritor e jornalista Álvaro Vargas Llosa, "a

A Guerra do Paraguai (1864-1870)

     Antes de falar propriamente do conflito, vamos recordar que o antigo Vice-Reinado do Rio da Prata não sobreviveu como unidade política ao fim do colonialismo espanhol. Com as independências americanas, nasceram, naquele espaço territorial após longos conflitos, a Argentina, o Paraguai, a Bolívia e o Uruguai.  Independências latino-americanas      A República Argentina surgiu depois de muitos vaivéns e guerras em  que se opunham os unitários e os federalistas. Os unitários defendiam um modelo de Estado centralizado, sob o comando da capital do antigo vice-reinado, Buenos Aires. Seus principais defensores eram os comerciantes da capital que, assim, poderiam assegurar o controle do comércio exterior argentino e apropriar-se das rendas provenientes dos impostos alfandegários sobre as importações. Já os federalistas  reuniam as elites regionais, os grandes proprietários, pequenos industriais e comerciantes mais voltados para o mercado interno. Defendiam o Estado descentrali

História do Rio Grande do Sul - Os Sete Povos das Missões

     Instrumento importante da Igreja na Contra-Reforma, a Companhia de Jesus foi criada por Inácio de Loyola, em 1534 (oficializada pelo Papa Paulo III em 1540), com o objetivo de "recatolizar" as regiões convertidas ao protestantismo. Sua atuação na América foi marcante, mas estiveram, também, na Índia, China e Japão durante essa época. Na América Portuguesa, a atuação dos jesuítas iniciou-se em 1549 em Salvador - na América Espanhola iniciou em 1610.      Nem sempre os jesuítas eram eficazes em sua conversão dos nativos. Após uma conversão inicial, marcada pelo batismo, muitos guaranis retornavam às suas práticas indígenas não sendo fieis às práticas e costumes cristãos. As reduções, no entanto, serviram à Coroa portuguesa, pois o "adestramento" dos nativos facilitava o acesso de mão-de-obra barata e abundante aos paulistas que tinham grande dificuldade de fazer cativos indígenas. Como eram hábeis agricultores, os tupi-guaranis eram "de grande valor&qu