Há dez anos atrás, quando o World Trade Center e o Pentágono foras atingidos por aviões, porta-vozes do governo estadunidense apressavam-se em dizer que a liberdade e a democracia eram atingidas. Porém, esses "defensores da liberdade e da democracia" estiveram envolvidos, 28 anos antes, no bombardeio ao Palácio de La Moneda em Santiago, no Chile. Prédios foram destruídos, pessoas atingidas e a proposta de socialismo pela via pacífica massacrada com a derrubada do governo eleito, Salvador Allende.
A década de 1960 foi de efervescência política no Chile. O socialista Salvador Allende já disputara a presidência em 1964 contra o democrata cristão Eduardo Frei - que, com apoio e financiamento estadunidenses, venceu a eleição. Após essa derrota eleitoral, Allende conseguiu formar uma grande coalisão de esquerda, a Unidad Popular. Os partidos chilenos estavam socialmente representados da seguinte forma:
Partido Nacional - proprietários rurais e industriais;
Partido Democrata Cristão - trabalhadores das grandes indústrias;
Unidad Popular - operários, trabalhadores agrícolas e baixa classe média urbana.
Na eleição de 1970, Salvador Allende venceu com estreita vantagem (pouco mais de 1%), sem ter apoio no Congresso nem do bloco capitalista - o presidente Nixon (dos EUA), por exemplo, financiou jornais de oposição ao governo de Allende durante seu mandato. No governo, Allende adotou medidas populares que desagradaram os grandes proprietários como a reforma agrária e a nacionalização de indústrias e de bancos. O clima no país era de divisão: muitos apoiavam as medidas do presidente, mas a oposição a seu governo também foi forte. É difícil rotular tendências mas, simplificando, as camadas mais pobres, beneficiadas com as medidas adotadas por Allende representaram sua base aliada; já os grandes proprietários e empresários nacionais e internacionais sentiam-se lesados com a via socialista de administração do governo e faziam-lhe ferrenha oposição. Essa oposição ficou mais pesada em 1973, quando o país quase paralisou com greves, tentativas de golpe de Estado e passeatas tanto de apoio quanto de protesto ao governo Allende. Somado a isso, os EUA usaram de uma política de quase isolamento da economia chilena que estava perto do colapso: altíssima inflação, desemprego, produtos básicos em falta...
Eis que esse clima político levou a um golpe militar. Os EUA, que já haviam sofrido uma revolução no quintal de casa (Cuba, em 1959) e enfrentando a Guerra do Vietnã, não poderia aceitar uma nova tentativa de implantação do socialismo na América e deixou isso bem claro quando, em 11 de setembro de 1973, o Palácio de la Moneda, sede do governo chileno, foi bombardeado. Vale lembrar que, nessa data, outros países latino-americanos já estavam sob ditaduras militares: Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Peru... enfim, todos os governos que assumiram um programa de esquerda foram derrubados. Nesse outro 11 de setembro, o chefe das Forças Armadas, general Augusto Pinochet, assumiu o poder após o ataque ao palácio presidencial. De 1973 até 1990, Pinochet comandou o Chile dentro de uma ditadura muito fechada, considerada por alguns historiadores como sendo de molde fascista. Fuzilamentos, desaparecimentos forçados, sequestros, assassinatos e torturas marcaram o período, mas não impediu que no país permanecesse uma divisão política entre os pró-Pinochet e os contra-Pinochet da mesma forma como antes haviam os pró-Allende e os contra-Allende.
Em 2011, o corpo de Salvador Allende foi exumado para confirmar se ele fora assassinado ou se suicidou. Na prática, isso pouco importa pois sua morte ocorreu durante a invasão do palácio após o bombardeio, diante de seus opositores. O laudo da perícia, declarou que Allende se suicidou (ou foi suicidado?). De qualquer forma, a morte do presidente chileno representou o fim de uma proposta de socialismo pela via democrática e pacífica na América Latina na década de 1970, mas possibilitou manter o regime capitalista que, segundo os EUA, é o grande promotor da democracia e da liberdade. Será?
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