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Imigração Italiana no Rio Grande do Sul

Diversas regiões unificadas em 1870 e que se
tornaram a Itália. As regiões numeradas são
de onde saíram a maioria dos italianos que
vieram para o Brasil - em ordem decrescente.
     Os italianos chegaram ao Rio Grande do Sul meio século depois dos alemães, mas pelos mesmos motivos. A unificação italiana (1870) provocou grave crise econômica. Como não havia um "sentimento nacional italiano", dada a unificação política tardia, o mais forte elemento de coesão cultural era a religião, especialmente a prática do catolicismo. A maioria dos italianos vindos para o Brasil ficaram em São Paulo, onde foram empregados nas fazendas de café quando a escravidão chegava ao fim. 

Foto de um navio negreiro (cerca de 1840)
     Falando em escravidão, cabe um adendo. Há quem queira comparar a situação dos africanos com a dos europeus que vieram para o Brasil. Não há como comparar pois são situações totalmente diversas. Listo alguns motivos: 1) os europeus (alemães e italianos) vieram para o Brasil por vontade própria, para fugir dos problemas econômicos do Velho Mundo; os africanos vieram como escravos, forçados. 2) os europeus vinham em navios com condições muito simples mas não há como comparar com um navio negreiro, onde os africanos vinham carregados como animais; 3) por mais pobres que fossem os europeus vindos para o Brasil, eles tinham condições de iniciar uma vida nova no Brasil, bem diferente dos africanos que vinham, literalmente, pelados para cá; 4) os europeus traziam junto sua família, enquanto os africanos - na grande maioria - era separado de sua família já antes de deixar a África e, aqui, eram vendidos separadamente de seus familiares; 5) os europeus receberam lotes de terra do governo enquanto os africanos eram vendidos como escravos e, mesmo depois da alforria, não tiveram qualquer direito à indenizações ou ajuda para custear compra de terras; 6) é meio imbecil ter que dizer algo tão óbvio, mas tem gente que custa a entender: os europeus eram LIVRES, os africanos eram ESCRAVOS, vendidos aqui como mercadoria (e desse modo tratados!). Portanto, desculpem o desabafo, não há condições de comparar a "imigração" africana com a imigração alemã e italiana - são duas realidades muito diferentes e, logo, incomparáveis.

Caxias do Sul no início do século XX.
    Numericamente, vieram muito mais italianos do que alemães para o Rio Grande do Sul. Entre 1824 e 1939 chegaram cerca de 75.000 alemães. Só entre 1875 a 1914, em comparação, chegaram por aqui cerca de 84.000 italianos. Eles foram assentados em terras do governo na Serra gaúcho, região agreste e de difícil acesso à época. Vale destacar que os italianos receberam terras menores que as dos alemães (que chegaram antes) e a maioria teve de pagar por seus lotes de terra.

Núcleos de imigração italiana
     As primeira colônias foram criadas entre 1870 e 1875: Conde d'Eu (hoje Garibaldi), Princesa Dona Isabel (hoje Bento Gonçalves) e Caxias do Sul. Após 1884, novas colônias foram criadas: São Marcos, Nova Pádua e Antônio Prado.

     Os primeiros cultivos foram de milho, trigo e videiras, além da extração de madeira, origem da indústria moveleira. A venda do vinho forneceu os primeiros capitais a serem investidos nas pequenas oficinas, que mais tarde se tornaram grandes indústrias. Em 1890, em Caxias do Sul, existiam 235 pequenas indústrias e 6 casas comerciais (sinal do rápido crescimento, após prévia acumulação de capital). Ainda na questão do vinho, em 1929 foi criada a Sociedade Vinícola Riograndense, formada pelos grandes comerciantes e responsável por retirar do mercado os artesãos - devido à Regulamentação do Vinho garantida pela Sociedade.

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