Minha filha é pequena e não gosta nada de perder no jogo. Já aprendeu até a trapacear para ganhar o jogo sempre. Quando digo que isso é errado e que ela não pode fazer isso ela me diz: "Mas ganhar é que é legal!" Pois é, filha, mas não dá pra ganhar trapaceando, tem que respeitar as regras do jogo e jogá-lo honestamente! Parece que tem muita gente que não aprendeu isso quando criança e, agora, quer ganhar no tapetão. As eleições de 2014, sem dúvida alguma, foi a mais polarizada desde a redemocratização. A diferença entre Dilma e Aécio foi de apenas 3% e pouco mais de 3 milhões de votos. Ou seja, Dilma venceu o jogo. Ponto final. Não há terceiro turno! Mas há quem queira vencer no tapetão e essa semana parece que teremos muitas manifestações Brasil afora dentre os mais diversos segmentos políticos.
Dia 13 de março ocorrerão as manifestações do Dia Nacional de Luta em Defesa dos Direitos da Classe Trabalhadora, da Petrobrás, da Democracia e Reforma Política, Contra o Retrocesso. De acordo com os organizadores, não é uma nem pró nem contra o governo. É uma manifestação pela democracia, num momento em que há indivíduos que nunca estudaram História querendo a volta da ditadura.
Já no dia 15, estão marcadas as manifestações anti-Dilma tentando reviver o clima de março de 1964 quando a oposição saiu as ruas para demonstrar sua insatisfação com o governo João Goulart. Se em 1964 tivemos a marcha da Família com Deus pela liberdade, dia 15 está programada, de acordo com o bem-humorado e sarcástico jornalista Juremir Machado da Silva, "a marcha das família com dinheiro pela liberdade de dar o golpe".
O governo Dilma II tem deixado muito a desejar. O grande problema de Dilma nesse 2º mandato está na ausência de uma negociação eficaz. Parece que faltou a Dilma colocar em prática sua leitura de O Príncipe, de Maquiavel. Não dá pra fazer todas as malvadezas de uma vez só! Na minha humilde opinião, os erros começaram na escolha da equipe econômica. Na tentativa de acalmar a direita e o mercado, Dilma escolheu o neoliberal Joaquim Levy para Ministro da Fazenda. E o cara não hesitou nas medidas impopulares. Além disso, Dilma escolheu um Ministério de direita para agradar a toda a sua gigantesca base aliada. A escolha de Kátia Abreu, velha amiga do agronegócio e dos ruralistas, desagradou e muito a esquerda que apoiou a presidenta no 2º turno. Mas ela tinha que agradar sua base aliada né... Só que numa base aliada tão grande, fica difícil negociar... Dilma nunca vai agradar a direita pois ela, embora nunca tenha sido pobre, não se encaixa no perfil da elite, nunca será bem vista pelo empresariado paulista, por exemplo. Dilma já se queimou com a esquerda por suas medidas neoliberais, já vindas desde o governo Lula. Resta-lhe agradar o centro, que ninguém sabe ao certo o que é.
E a Petrobrás? A Operação Lava-Jato mostra que vivemos um momento de nossa democracia em que não se joga para baixo do tapete os casos de corrupção. A Polícia Federal e o Ministério Público finalmente podem investigar, agir e punir. É a consolidação de nossa democracia. Os depoimentos mostram que já havia desvio comprovado na Petrobrás desde 1996, ainda no primeiro mandado de Fernando Henrique Cardoso. Ou seja, há pelo menos 20 anos o dinheiro vem sendo desviado. É a oportunidade de estancar essa sangria e recuperar a estatal. Mas o jogo da grande mídia aponta para outro caminho: o objetivo da super-mega-ultra-exposição da Operação Lava-Jato na imprensa visa mostrar que a estatal não se sustenta mais, é inviável e precisa ser privatizada. Logo agora que, com a extração do pré-sal, a estatal deverá ter lucros bilionários como nunca antes na história desse país. Curioso, não? Mas, meu caros, não é coincidência. É tudo orquestrado por aqueles que patrocinam os principais jornais, revistas e emissoras de TV do país, visando lucrar e muito com a privatização da petroleira.
E o dólar subiu, a inflação aumentou, as ações caíram... mas nada, ainda, está fora de controle! Quando Lula governou, a economia mundial estava em pleno crescimento, o que facilitou e muito sua gestão. A crise global de 2008 foi respingar no Brasil já no final de seu mandato e início do governo Dilma, que ainda não conseguiu recuperar satisfatoriamente a economia mas, sinceramente, acredito que isso é questão de tempo. Há chances, ainda, de recuperação.
É por tudo isso e mais um pouco que a imagem de Dilma está tão arranhada, mas não há bases para um impeachment. Fernando Collor sofreu impeachment mesmo após sua renúncia em 1992 por estar diretamente envolvido em casos de corrupção. Não é o caso de Dilma. Não há provas nem indícios de que ela esteja diretamente envolvida em nenhuma denúncia. Seu partido teria recebido doações ilegais, mas sua situação difere da de Collor que teve envolvimento direto com a corrupção no passado e que está na lista de Janot por receber propina de doleiros nos últimos anos. E para um impeachment acontecer tem que haver prova de que Dilma cometeu crime de responsabilidade. Querer derrubá-la por não ser uma boa presidente... bom, façam isso em 2018 quando haverá nova eleição!
A própria oposição, que fomentou a revolta contra o governo e inclusive lançou o discurso pró-impeachment, agora começa a recuar. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teria pedido ao jurista de direita Ives Gandra um parecer sobre a possibilidade de impeachment da presidenta, declarou ao jornal O Estado de São Paulo de 10/03/2015 que "o impeachment é como bomba atômica, é para dissuadir, não para usar", reconhecendo que a pressão é mais no sentido de desestabilizar o governo. E o candidato a vice-presidente na chapa de Aécio, o senador Aloysio Nunes Ferreira declarou em seminário no Instituto FHC na capital paulista: "Não quero que ela saia, quero sangrar a Dilma, não quero que o Brasil seja presidido pelo Michel Temer." Ou seja, a oposição já assume ser muito mais vantajoso a eles deixar Dilma "sangrar" e ganhar votos para a próxima eleição do que derrubá-la agora deixando a presidência para o PMDB. Só é lamentável que a oposição torça contra o Brasil...
E, no último domingo, dia Internacional da Mulher, o Brasil viveu a "Revolta da Varanda". Enquanto Dilma discursava moradores de bairros mais abastados das principais capitais brasileiras pegavam em panelas pela primeira vez na vida para um "panelaço" contra a presidenta. Foi a revolta mais curta do Brasil: durou menos de dez minutos que foi o tempo que as madames aguentaram com uma panela na mão sem cansar. E muitos se encheram de coragem para gritar "vaca" das janelas de suas gigantescas varandas, demonstrando o quanto nossa sociedade, em especial a elite, é incapaz de fazer críticas ou demonstrar insatisfação e indignação sem apelas para questões de gênero. Chamar de "vaca" não criticas a honestidade ou competência de alguém e sim uma forma machista de depreciar uma mulher simplesmente por ser mulher; de colocá-la no seu "devido lugar", que, para esses, é fora da política. Lamentável!
E que venham os próximos capítulos...
Comentários
Postar um comentário
Comente a vontade... e com respeito, claro!