A partir de hoje, postarei sobre o 11 de setembro que mudou a vida de muita gente na América, deixou milhares de mortos, influenciou na política continental e ainda representou um grande ataque à democracia e à liberdade. Lógico que estou falando do 11 de setembro de 1973! O outro 11 de setembro não chega nem perto desse em significado e importância histórica. Ao longo das postagens espero indicar o porquê.
Antes de mais nada, quero dizer que essa série está baseada (principalmente) no trabalho de conclusão de curso elaborado por meu colega e amigo Rafael de Aguiar Pereira cujo título é "Os crimes da ditadura Pinochet no banco dos réus: o processo espanhol contra a impunidade intocável." O trabalho está disponível na íntegra aqui.
Uma democracia considerada perigosa
Em setembro de 1973, vários países da América do Sul já eram dominadas por ditaduras militares: Paraguai (desde 1954), Brasil (desde 1964), a Argentina já havia sofrido um golpe em 1966, a Bolívia em 1971 e a ditadura recém havia sido instaurada no Uruguai, em junho daquele ano.
A situação política chilena já era causa de grande preocupação para a sede do capitalismo, os EUA. Em 1970, Salvador Allende foi eleito e dava início à "via chilena para o socialismo" focado no forte engajamento popular no processo de transformações e na preservação das instituições democráticas. Diferente de outros governos socialistas pelo mundo, a chegada de Allende ao poder não se deu pela via revolucionária (pela tomada violenta do poder pelo proletariado) mas por uma evolução de consciência de classe dentro do jogo democrático.
Em 1964, Allende havia sido derrotado nas urnas por Eduardo Frei, do Partido Democrata Cristão (PDC). Todavia, o fracasso do governo Frei em cumprir o programa anunciado na campanha cuja base incluía a reforma agrária e a nacionalização do cobre gerou graves crises - sobretudo após 1967. Greves nas fábricas, ocupação de terras no campo e mobilizações cotidianas de estudantes desgataram o governo e empurraram setores de centro-esquerda na direção da Unidade Popular de Allende. Assim, em 4 de setembro de 1970, o resultado das eleições foram:
Em 1964, Allende havia sido derrotado nas urnas por Eduardo Frei, do Partido Democrata Cristão (PDC). Todavia, o fracasso do governo Frei em cumprir o programa anunciado na campanha cuja base incluía a reforma agrária e a nacionalização do cobre gerou graves crises - sobretudo após 1967. Greves nas fábricas, ocupação de terras no campo e mobilizações cotidianas de estudantes desgataram o governo e empurraram setores de centro-esquerda na direção da Unidade Popular de Allende. Assim, em 4 de setembro de 1970, o resultado das eleições foram:
SALVADOR ALLENDE (Unidad Popular) - 36,3%
JORGE ALESSANDRI (Partido Nacional) - 34,9%
RODOMIRO TOMIC (Partido Democrata Cristão) - 27,8%
Conforme legislação do país, em caso de não haver maioria absoluta (mais de 50%), caberia ao Congresso Nacional decidir entre os dois candidatos mais votados. Internamente, a pressão popular pela consagração da vitória de Allende levou os parlamentares a decidirem pela eleição do candidato da Unidad Popular no dia 24 de setembro de 1970. Externamente, a CIA (dos EUA) elaborou dois planos - Track 1 e Track 2 - para evitar a vitória de Allende mas a pressão popular somada a um entendimento entre a Unidad Popular e o Partido Democrata Cristão garantiram a confortável vitória do socialista por 153 votos contra 35.
Em 4 de novembro de 1970, Salvador Allende tomou posse assinando o "Estatuto de Garantias" garantindo manter as instituições democráticas. Entre as principais ações do governo Allende podemos citar a desapropriação de terras e a nacionalização das riquezas minerais chilenas (julho/1971) - parte delas já haviam sido nacionalizadas por Eduardo Frei;
Paralelo a isso, grandes empresários passaram a produzir insurreições ameaçando desabastecer o país e responsabilizar o governo pelo caos.
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