Por Altamiro Borges
Na época do golpe civil-militar de 1964, o
imperialismo estadunidense, os latifundiários e parte da burguesia nativa
derrubaram o governo democraticamente eleito de João Goulart. Naquela época, a
imprensa teve papel destacado nos preparativos do golpe. Na sequência, muitos
jornalões continuaram apoiando a ditadura, as suas torturas e assassinatos.
Outros engoliram o seu próprio veneno, sofrendo censura e perseguições.
Nesta triste data da história brasileira, vale à
pena recordar os editoriais dos jornais burgueses – que clamaram pelo golpe,
aplaudiram a instalação da ditadura militar e elogiaram a sua violência contra
os democratas. No passado, os militares foram acionados para defender os
saqueadores da nação. Hoje, esse papel é desempenhado pela mídia privada, que
continua orquestrando golpes contra a democracia. Daí a importância de
relembrar sempre os seus editorais da época:
O golpismo do jornal O Globo
“Salvos da comunização que celeremente se
preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares que os
protegeram de seus inimigos. Este não foi um movimento partidário. Dele
participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a
ninguém escapava o significado das manobras presidenciais”. O Globo, 2 de abril
de 1964.
“Fugiu Goulart e a democracia está sendo
restaurada..., atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e
progresso... As Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a nação na
integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado
pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal. O Globo, 2 de abril
de 1964.
“Ressurge a democracia! Vive a nação dias
gloriosos... Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes
a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a
hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que
insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições. Como
dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a garantia da
subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da
legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se
vinha fazendo, diante da Nação horrorizada”. O Globo, 4 de abril de 1964.
“A revolução democrática antecedeu em um mês a
revolução comunista”. O Globo, 5 de abril de 1964.
Conluio dos jornais golpistas
“Minas desta vez está conosco... Dentro de
poucas horas, essas forças não serão mais do que uma parcela mínima da
incontável legião de brasileiros que anseiam por demonstrar definitivamente ao
caudilho que a nação jamais se vergará às suas imposições”. O Estado de
S.Paulo, 1º de abril de 1964.
“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o
poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior Marques
Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores
gatunos que a história brasileira já registrou, o Sr João Goulart passa outra
vez à história, agora também como um dos grandes covardes que ela já conheceu”.
Tribuna da Imprensa, 2 de abril de 1964.
“Desde ontem se instalou no país a verdadeira legalidade...
Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de mais
fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade está
conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas”. Jornal do Brasil, 1º de
abril de 1964.
“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e
simples do Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui
acusamos o Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta
fratricida, desordem social e corrupção generalizada”. Jornal do Brasil, 1º de
abril de 1964.
“Pontes de Miranda diz que Forças Armadas
violaram a Constituição para poder salvá-la”. Jornal do Brasil, 6 de abril de
1964.
“Multidões em júbilo na Praça da Liberdade.
Ovacionados o governador do estado e chefes militares. O ponto culminante das
comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento
pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao
Palácio da Liberdade”. O Estado de Minas, 2 de abril de 1964.
“A população de Copacabana saiu às ruas, em
verdadeiro carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados
caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu
contentamento”. O Dia, 2 de abril de 1964.
“A paz alcançada. A vitória da causa democrática
abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves
dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva
seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças
Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do
Brasil”. O Povo, 3 de abril de 1964.
“Milhares de pessoas compareceram, ontem, às
solenidades que marcaram a posse do marechal Humberto Castelo Branco na
Presidência da República... O ato de posse do presidente Castelo Branco
revestiu-se do mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve”. Correio
Braziliense, 16 de abril de 1964.
Apoio à ditadura sanguinária
“Um governo sério, responsável, respeitável e
com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do
desenvolvimento com justiça social – realidade que nenhum brasileiro lúcido
pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama”. Folha de S.Paulo, 22 de
setembro de 1971.
“Vive o País, há nove anos, um desses períodos
férteis em programas e inspirações, graças à transposição do desejo para a
vontade de crescer e afirmar-se. Negue-se tudo a essa revolução brasileira,
menos que ela não moveu o país, com o apoio de todas as classes
representativas, numa direção que já a destaca entre as nações com parcela
maior de responsabilidades”. Jornal do Brasil, 31 de março de 1973.
“Participamos da Revolução de 1964 identificados
com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas,
ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção
generalizada”. Editorial de Roberto Marinho, O Globo, 7 de outubro de 1984.
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