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O golpe militar de 1964 – os antecedentes


     Estamos lembrando nesse ano os 49 anos do último golpe de Estado de nosso país, o golpe militar de 1964 que instaurou uma longa ditadura civil-militar em nosso país. Todavia, os eventos de 31 de março de 1964 que culminaram no fim do governo democrático do presidente João Goulart em 1º de abril tem antecedentes históricos de uma década.

            


     O golpe militar vinha sendo gestado desde 1954, quando a pressão sobre o governo de Getúlio Vargas levou ao seu suicídio na manhã de 24 de agosto. A comoção popular em torno do fato certamente retardou a ação dos militares.





           
     No ano seguinte, houve eleições presidenciais e Juscelino Kubitscheck saiu vitorioso pela coligação PSD/PTB, a mesma que havia elegido Getúlio Vargas. Na época, votava-se separadamente para vice-presidente. O vencedor foi João Goulart, o Jango, da mesma coligação de JK e ex-Ministro do Trabalho do governo Vargas. O partido de oposição, a UDN, tentou impugnar o resultado das eleições alegando a proximidade dos votos recebidos por JK e o general Juarez Távora (uma diferença de mais de 400.000 votos). A posse de Juscelino e do vice-presidente eleito João Goulart só foi garantida pelo ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, impedindo anseios de setores golpistas das Forças Armadas. Isso não impediu que os militares se manifestassem em oposição à posse de JK com a Revolta de Jacareacanga (fevereiro de 1956) e contra seu governo na Revolta de Aragarças (dezembro de 1959). O objetivo era iniciar um “movimento revolucionário” para afastar do poder o governo JK/Jango tachado, pelos líderes da conspiração, de corruptos e comprometidos com o comunismo internacional.

           
 Mas, mesmo com as turbulências, Juscelino concluiu sem mandato. O mesmo não aconteceu com seu sucessor. Em 1960, Jânio Quadros (da coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL) foi eleito presidente mas não conseguiu eleger seu vice. O eleito foi o candidato da chapa adversária, o já conhecido João Goulart (PTB). Felizes com a vitória da UDN e descontentes com a permanência de Jango, os militares foram percebendo que Jânio Quadros era um “insubordinado” (ver aqui).






     A pressão dos militares sobre ele levou à sua renúncia no dia 25 de agosto de 1961 e à crise em torno de sua sucessão pois os militares não aceitavam a posse de João Goulart – o que desencadeou a Campanha da Legalidade liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Sobre a Campanha da Legalidade fiz uma série de postagens em 2011. Se quiser relembrar, clique aqui.

   
Após a crise sucessória, Jango cedeu às pressões e acatou a decisão de assumir a presidência sob o regime parlamentarista – revogado em janeiro de 1963 por um plebiscito. As reformas de base de Jango, anunciadas em 13 de março de 1964,  foram o estopim para o golpe de Estado perpetrado pelos militares, mas isso fica para a próxima postagem.





            Então, recapitulando...

Tentativas frustradas de golpe de Estado:

1)     1954 – Pressão sobre Getúlio Vargas que culminou em seu suicídio;
2)     1955 – Tentativa de impugnar a eleição de Juscelino Kubitscheck;
3)     1956 – Revolta de Jacareacanga;
4)     1959 – Revolta de Aragarças;
5)     1961 – Impedimento à posse de Jango, barrada pela Campanha da Legalidade.

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