Repasso um texto meu que utilizei com os alunos do Julinho. Achei o texto legal e ele dá um panorama histórico da trajetória da burguesia.
BURGUESIA FORTE, REI MAIS FORTE
A burguesia quer ficar rica
Cazuza cantava, em 1989, que "a burguesia fede, a burguesia quer ficar rica". Quando Cazuza, Ezequiel Neves e George Israel compuseram essa música, talvez, nem tivessem idéia do quanto o conceito de burguesia havia se modificado ao longo dos séculos.
A burguesia surgiu durante a história medieval, quando houve o renascimento comercial e urbano. Como se dedicavam ao comércio, acumularam o dinheiro e ficaram mal vistos pela nobreza que era quem detinha o poder. Cazuza tinha razão: o sonho da burguesia era ficar rica e, mais do isso, enriquecer e tomar o poder. Para isso, os burgueses desejavam um poder centralizado e forte, pois só assim conseguiriam um mercado interno plenamente desenvolvido.
Assim, rei e burguesia aliaram-se para satisfazer seus interesses. Buscando derrotar os senhores, o rei buscou apoio na burguesia que estava pronta para auxiliá-lo com empréstimos em dinheiro desde que aumentassem sua oportunidade de lucros com um mercado cada vez mais forte. Com o dinheiro da burguesia, o rei poderia pagar um exército próprio, cujos soldados teriam na luta sua única ocupação. Os soldados dos senhores feudais não tinham preparo, nem organização regular para lutar em harmonia.
Dizia Cazuza que "a burguesia não repara na dor da vendedora de chicletes. A burguesia só olha pra si". É bem verdade que a burguesia pressionou o rei para atender seus interesses padronizando o sistema de pesos e medidas e cunhando moedas nacionais. E, de fato, essa burguesia foi ficando cada vez mais rica e afastando-se cada vez mais de suas origens. A palavra burguesia vem de burgo como era conhecida a cidade medieval. Ou seja, burguês era quem vivia na cidade, quem vinha de uma origem mais simples e buscava no trabalho, no comércio e na prestação de serviços uma forma de tentar uma vida melhor. Ocorre que a burguesia foi ficando cada vez mais rica e o povo (de onde saiu esse burguês) cada vez mais pobre.
Karl Marx, no século XIX, criticava a burguesia que era a classe dominante nesse período, pois essa camada social foi enriquecendo cada vez mais e, assim, acabou adquirindo meios para produzir sempre mais – o que acabou dando origem à Revolução Industrial quando a produção manual de produtos deu lugar às máquinas que produziam muito mais em muito menos tempo. O burguês, então, tornou-se o proprietário dos meios de produção, ou seja, o dono das fábricas, das terras, dos bancos... E, para isso, explorou cada vez mais a mão-de-obra de seus empregados. E isso, infelizmente, ocorre até hoje. Por isso, Cazuza e seus companheiros eram tão indignados com a burguesia: "Porcos num chiqueiro são mais dignos que um burguês. Mas também existe o bom burguês que vive do seu trabalho honestamente, mas este quer construir um país e não abandoná-lo com uma pasta de dólares. (...) E se interessa por seu povo, em seres humanos vivendo como bichos, tentando se enforcar na janela do carro no sinal." Não é a toa que a música repetia que "enquanto houver burguesia não vai haver poesia". Será?
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