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Revolução de 1923 no Rio Grande do Sul

     Os anos 20 se caracterizaram por uma situação de crise no Rio Grande do Sul, graças à recessão econômica e o recuo da demanda mundial. A pecuária foi o setor mais atingido devido à retração do consumo europeu de carnes. E foi nessa conjuntura desfavorável que Borges de Medeiros resolveu colocar em prática uma política de modernização dos transportes, cobrando as dívidas dos criadores de gado e levando muitos deles à falência.

Revolução de 1923

      A política borgista de desenvolvimento global da economia gaúcha foi a principal causa da revolta, além da grande incidência de fraude eleitoral nas eleições de 1922 - Borges vencera o candidato da oposição (Assis Brasil) garantindo seu 5º mandato. Em função disso, a parcela oposicionista da elite gaúcha foi às armas para tirar Borges do poder. 

     A oposição a Borges (PRR) articulou-se em três grupos:

  • federalistas - liderados por Wenceslau Escobar e Raul Pilla;
  • democratas - liderados por Assis Brasil (candidato derrotado na eleição de 1922) e Fernando Abbott;
  • dissidentes republicanos - comandados por Pinheiro Machado e Menna Barreto.
     Nesse conflito, como no e 1893-95, os oposicionistas eram os "maragatos" e os republicanos detentores do poder eram os "chimangos". Vale lembrar que foi da oposição que surgiu, no ano seguinte, a Aliança Libertadora - origem do Partido Libertador fundado em 1928.

     A Revolução de 1923 teve seus principais confrontos na região serrana de Passo Fundo e Palmeira. Inicialmente, o movimento ficou restrito ao Noroeste do estado, mas logo espalhou-se para as demais regiões. A tática de guerrilha foi usada para manter o estado convulsionado tentando forçar uma intervenção do governo federal - o que não ocorreu. 


     O movimento acabou num acordo, o Pacto de Pedras Altas. Pelo Pacto ficou estabelecido que a Constituição positivista seria revisada e que, completado seu quinto mandato, Borges de Medeiros não se reelegeria.

     Essa foi mais uma revolta intra-elites, ou seja, a elite dividida duelando entre si. A luta era entre as tropas coronelistas, utilizadas pelos dois lados envolvidos. Não custa lembrar que, no Rio Grande do Sul, o coronelismo foi politicamente importante pelo menos até a implantação do Estado Novo (1937). Com a ditadura de Vargas iniciada em 1937, o coronelismo perdeu sentido pois não havia mais sistema representativo e, consequentemente, não havia mais o controle das eleições, base do poder dos coronéis.

Comentários

  1. Bem que as elites poderiam voltar a se matar novamente... ;)

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    1. kkkkk morri com esse comentário. O problema é quando a elite resolve fazer o povo de massa de manobra e levar as massas junto com ela para o inferno.

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