Pular para o conteúdo principal

A Babilônia nos tempos de Hamurábi



A 1ª questão do Vestibular da UFRGS desse ano questionava sobre o objetivo do Código de Hamurábi. Pois bem, vamos ao Código, ao Hamurábi e à Babilônia...

     A Babilônia é uma das sociedades mais antigas que conhecemos, com achados arqueológicos datando mais de cinco mil anos. Situada na região da Mesopotâmia (entre os rios Tigre e Eufrates), a Babilônia apresentou grande desenvolvimento social, econômico, político e cultural no reinado de Hamurábi.

Hamurábi foi o sexto rei da primeira dinastia babilônica e reinou de 1792 a 1750 a.C. Foi o primeiro rei do Império da Babilônia e utilizou-se de sua habilidade bélica para conquistar várias cidades e regiões ao redor atingindo, em seu reinado, uma grande extensão territorial. Entre outras regiões, conquistou a Acádia, a Suméria, Larsa, a cidade de Mari, Eshnunna.

Além disso, Hamurábi implantou eficientes normas de administração e baseou a economia do Império na agricultura (com um complexo sistema de canais de irrigação) e no comércio - ambos facilitados pela localização geográfica privilegiada às margens dos Rios Nilo e Eufrates. 


Durante seu reinado, a Babilônia tornou-se uma das regiões mais prósperas do mundo antigo. A grandiosidade do poder era notável nas habitações luxuosas e nos grandes templos religiosos (vide o zigurate da imagem ao lado). Os templos eram administrados por sacerdotes que também desempenhavam funçoes administrativas no governo. O zigurate, vale lembrar, tem função religiosa, havia um templo no topo. Por isso, não podemos compará-los com as pirâmides egípcias que eram túmulos e não templos. O principal deus babilônico era Marduk.






Se quiser saber um pouco mais sobre o reinado de Hamurábi, recomendo dar uma olhada nesse blog que tem uma postagem bem interessante.

 Bem, vamos ao famoso Código de Hamurábi.

O Código de Hamurábi foi um código de leis registrado em escrita cuneiforme e gravado em pedras de argila.







Para quem não se lembra, essa foi a questão da UFRGS em 2013: 



A resposta correta é a letra B. Vamos dar uma olhada no prólogo do Código para perceber o quanto a figura de Hamurábi é enaltecida no texto associando sua figura aos deuses e, por extensão, ao poder, à justiça e à sabedoria:

 "Quando o alto Anu, Rei de Anunaki e Bel, Senhor da Terra e dos Céus, determinador dos destinos do mundo, entregou o governo de toda humanidade a Marduk... quando foi pronunciado o alto nome da Babilônia; quando ele a fez famosa no mundo e nela estabeleceu um duradouro reino cujos alicerces tinham a firmeza do céu e da terra - por esse tempo de Anu e Bel me chamaram, a mim, Hamurabi, o excelso príncipe, o adorador dos deuses, para implantar a justiça na terra, para destruir os maus e o mal, para prevenir a opressão do fraco pelo forte... para iluminar o mundo e propiciar o bem-estar do povo. Hamurabi, governador escolhido por Bel, sou eu, eu o que trouxe a abundância à terra; o que fez obra completa para Nippur e Durilu; o que deu vida à cidade de Uruk; o que supriu água com abundância aos seus habitantes;... o que tornou bela a cidade de Borsippa;... o que enceleirou grãos para a poderosa Urash;... o que ajudou o povo em tempo de necessidade; o que estabeleceu a segurança na Babilônia; o governador do povo, o servo cujos feitos são agradáveis a Anunit".

Ok. Mas, e por que as outras alternativas estão erradas? 

A alternativa A está incorreta pois o Estado Imperial Mesopotâmico já estava estabelecido e não foi o Código de Hamurábi que contribuiu para sua formação.

A alternativa C está incorreta pois, embora tivesse pretensão de atingir toda a extensão do Império, o Código não atingiu a todo o território - algo difícil de ocorrer em um período no qual o acesso às informações era muitíssimo mais limitado que na atualidade - e não havia como fiscalizar sua aplicação por todos os juízes. O valor do Código, isso podemos assegurar, era moral. Outro motivo para descartar essa resposta é o termo "todas". Hoje não existem leis aplicáveis a "todas" as situações conflituosas, que diríamos de quase quatro mil anos atrás.

A alternativa D não está certa pois aponta a exclusividade da Lei do Talião (conhecida como "olho por olho, dente por dente") para a norma constitucional como se fosse possível reduzir 282 leis em uma só. Atentar para alternativas que falam em "todas", "exclusivamente"... Geralmente, estão erradas.

A alternativa E não poderia ser marcada pois aponta igualdade jurídica entre os súditos do Império. O Código faz referência a três camadas sociais: a do "awelum" que corresponde a mais alta, dos homens livres; a do "mushkenum" que seria uma camada intermediária composta por cidadãos livres mais com menor status; e o "wardum", os escravos (que, no entanto, poderiam ter propriedades). Ou seja, não há igualdade jurídica quanto a lei já estabelece a existência de três camadas sociais.


Dúvidas, sugestões, acréscimos... por favor, deixem nos comentários que serão respondidos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Guerra do Paraguai (1864-1870)

     Antes de falar propriamente do conflito, vamos recordar que o antigo Vice-Reinado do Rio da Prata não sobreviveu como unidade política ao fim do colonialismo espanhol. Com as independências americanas, nasceram, naquele espaço territorial após longos conflitos, a Argentina, o Paraguai, a Bolívia e o Uruguai.  Independências latino-americanas      A República Argentina surgiu depois de muitos vaivéns e guerras em  que se opunham os unitários e os federalistas. Os unitários defendiam um modelo de Estado centralizado, sob o comando da capital do antigo vice-reinado, Buenos Aires. Seus principais defensores eram os comerciantes da capital que, assim, poderiam assegurar o controle do comércio exterior argentino e apropriar-se das rendas provenientes dos impostos alfandegários sobre as importações. Já os federalistas  reuniam as elites regionais, os grandes proprietários, pequenos industriais e comerciantes mais voltados para o mercado interno. Defendiam o Estado descentrali

A Direita na Europa

Se a América Latina tem seguido o rumo a esquerda, a Europa vai à direita. É o que se tem observado com o crescimento dos partidos de direita no Velho Mundo. Em postagem recente, trabalhei os conceitos de esquerda e direita e, sim, eles existem hoje e são perceptíveis. É verdade que a direita na Europa tem procurado se "modernizar" para conquistar a maioria dos eleitores. E, com a crise econômica mundial de 2008, houve a consolidação dessa tendência de "direitização europeia". Isso já ocorreu na crise de 1929, quando os governos de direita ganharam força depois da crise com Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália, por exemplo. Calma, isso não quer dizer que a Europa esteja a beira de u m novo nazismo. Não é para tanto! Mas a crise faz com que o eleitorado opte por governos tradicionais, conservadores, com os quais saibam que não haverá mudanças de rumos e tudo seguirá como está e talvez até melhore. De acordo com o escritor e jornalista Álvaro Vargas Llosa, "a

História do Rio Grande do Sul - Os Sete Povos das Missões

     Instrumento importante da Igreja na Contra-Reforma, a Companhia de Jesus foi criada por Inácio de Loyola, em 1534 (oficializada pelo Papa Paulo III em 1540), com o objetivo de "recatolizar" as regiões convertidas ao protestantismo. Sua atuação na América foi marcante, mas estiveram, também, na Índia, China e Japão durante essa época. Na América Portuguesa, a atuação dos jesuítas iniciou-se em 1549 em Salvador - na América Espanhola iniciou em 1610.      Nem sempre os jesuítas eram eficazes em sua conversão dos nativos. Após uma conversão inicial, marcada pelo batismo, muitos guaranis retornavam às suas práticas indígenas não sendo fieis às práticas e costumes cristãos. As reduções, no entanto, serviram à Coroa portuguesa, pois o "adestramento" dos nativos facilitava o acesso de mão-de-obra barata e abundante aos paulistas que tinham grande dificuldade de fazer cativos indígenas. Como eram hábeis agricultores, os tupi-guaranis eram "de grande valor&qu