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A Venezuela no governo Chávez






Desde 1999, a Venezuela é presidida por Hugo Chávez. Graças a uma emenda constitucional, Chávez pode ser candidato a reeleição quantas vezes desejar, o que possibilita sua perpetuação no poder – ou não, caso a maioria da população o derrote nas urnas. Ele ainda tem influência sobre a maior parte do Legislativo embora esteja decrescendo o número de seus partidários no Parlamento, principalmente após a eleição desse ano. Atualmente, o governo venezuelano passa por um desgaste devido a desvalorização da moeda nacional, do racionamento de energia e da crise política oriunda das disputas com opositores nos últimos anos.




Para entender a Venezuela, é essencial olhar para o passado: no século XIX, um terço da população venezuelana morreu na Guerra de Libertação (independência) quando Simon Bolívar conquistou a autonomia do país, livrando-o do domínio espanhol. Hugo Chávez denominou a Venezuela como uma República Bolivariana com um viés socialista. O objetivo da denominação é apontar o novo anseio de libertação do país, agora não mais da Espanha mas da influência do imperialismo dos Estados Unidos em território latinoamericano – os EUA, inclusive, apoiaram o golpe contra Chávez.
Em 11 de abril de 2002, Hugo Chávez foi deposto e preso e em seu lugar assumiu o presidente da Federação das Indústrias, Pedro Carmona Estanga, num período em que multidões se organizavam em manifestações a favou ou contra Hugo Chávez – e a maior parte da imprensa posicionou-se contra o presidente (fazendo propagandas na TV do tipo: “Cumpra seu dever... a Venezuela precisa de você!” ou “Marchemos todos unidos. A Venezuela não se rende!”), apoiando o golpe e fortalecendo o poder de Carmona que fechou o Congresso Nacional (o novo presidente, em seu pronunciamento, agradeceu o apoio das emissoras de TV). O golpe ocorreu cinco dias após Chávez demitir 13 altos executivos da PDVSA (petrolífera da Venezuela) e aposentar outros 12, garantindo a estatização da empresa. O golpe se deu em meio a muita violência e muita participação popular. Milhares de pessoas não saíram da frente do Palácio Miraflores, em Caracas, resistindo ao golpe e trancando todos os acessos ao palácio clamando pela volta de Hugo Chávez. O Exército que apoiou o golpe mas que sempre fora favorável às políticas chavistas, colocou-se ao lado da maioria da população e depôs Carmona, trazendo Chávez de volta do exílio. Sobre o caso, recomendo o filme A Revolução não será televisionada que aborda muito bem sobre o tema – trata-se de um documentário, com fatos reais. E vale lembrar que, em 1992, Hugo Chávez foi quem tentou dar o golpe no presidente da época Carlos Andrés Perez. A tentativa de golpe foi frustrada mas alçou a figura de Chávez ao topo do cenário nacional – o que favoreceu seu personalismo político tornando-o símbolo não de seu partido (o Partido Socialista Unido da Venezuela, PSUV) mas de sua própria trajetória.



Desde 2002, a RCTV tornou-se o pólo de atração dos oposicionistas de Chávez e, em 2007, expirado o prazo da concessão, não foi renovado pelo presidente o qual alegou o descumprimento da lei aprovada em 2005, na qual 70% das emissoras do país deveriam ser de produção nacional. A RCTV acabou transferindo-se para os EUA (aliados do dono da emissora) e tornou-se um canal a cabo internacional.




O governo Chávez investiu fortemente em programas de redistribuição de terras e de combate às doenças, analfabetismo, pobreza e desnutrição no país. O PIB nacional teve crescimento na faixa dos 10% ao ano na última década; houve nacionalização de bancos privados; em cinco anos, 15% da população deixou a linha de pobreza e o poder aquisitivo das classes D e E aumentou 150%. Porém, nos últimos dois anos o país tem enfrentado crise econômica em virtude da inflação acima dos 25% (a maior do continente), além do racionamento de água e energia.
O petróleo é a maior riqueza da Venezuela – que está entre os 10 maiores produtores de petróleo e de gás natural do mundo – respondendo a 90% de suas exportações e 50% da arrecadação federal (o 2º maior importador do petróleo venezuelano é os EUA, embora sejam seus opositores políticos).




No quesito política externa, o governo Chávez tem como principais aliados os presidentes Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador). Como antagonista à política chavista, a Colômbia faz a maior oposição – lembre-se que a Colômbia é um dos poucos países aliados dos EUA na região e possui a maior quantidade de bases militares estadunidenses no continente (ao todo são quase 10 só na Colômbia) indicando interesse dos EUA em manter sob controle os países com políticas oposicionistas.




Hoje, o país não vive seu melhor momento mas também não podemos cair no erro de analisar a Venezuela fora da crise mundial iniciada em 2008. Vale lembrar que a abordagem do ENEM 2009 foi sobre o potencial energético da Venezuela, ou seja, não esperem uma questão criticando Chávez e suas atitudes impetuosas – isso fica restrito aos factóides e não aos exames de conhecimento.

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